segunda-feira, novembro 19, 2007

ESPAÇO Z


Entre os anos 60 e 70 o cinema desenvolveu uma espécie de ritual de culto para um determinado género de filmes. Portugal não experienciou, ao contrário dos EUA, o prazer de pagar um bilhete de cinema na sessão da meia-noite para ver dois filmes pelo preço de um. Aconteceu com Grindhouse que consistia em pegar nos chamados “Exploitations films” e fazer sessão dulpa. Estes continham basicamente tudo o que Hollywood condenava nos filmes. Sexo e violência gratuitos e histórias que por norma não eram exploradas por falta de tema…tudo o que pudesse afastar a narrativa clássica de ‘Hollywoodland’. Para além disto, os filmes Grindhouse eram projectados em péssimas salas de cinema e cujas bobines em risco de desapareceram pela má imagem que tinham. Os filmes Grindhouse começaram a ganhar fãs que procuravam o cinema alternativo, sendo um deles Quentin Tarantino e Robert Rodriguez que os assitiam com todo o prazer e compreensão pelo que eram na sua essência. Anos mais tarde, ambos se tornam realizadores, e vistas bem as coisas, os seus géneros de filmes até se unem muito bem. Tarantino e Rodriguez aperceberam-se que ambos gostavam do mesmo género de filmes, com os quais tinham crescido, e então formaram o projecto Grindhouse (na sua fiel homenagem como titulo). Assim, dentro do projecto, dois filmes foram feitos: Death Proof e Planet Terror, tendo ambos sido rodados com o propósito de serem vistos juntos, tal como se espera do cinema Grindhouse. Isto funcionou bem nos EUA, mas o problema é que há muitos países, e Portugal é um deles, que não sabem sequer o que foi o Grindhouse. Assim, foi proposto aos realizadores que separassem os filmes de modo a ficarem separados um do outro, acrescentando mais 30 minutos de fita. Death Proof contém, então, a mais simples sinopse de sempre. “Ex-duplo de cinema tem prazer sexual em matar jovens usando o seu carro como arma”. À partida lendo uma sinopse tão pobre como esta desinteressa qualquer cinéfilo, certo? ERRADO. Este filme foi pensado para ser o mais fiel possível às suas origens e como tal, Tarantino nunca poderia apostar num argumento arrojado, como fez por exemplo em Pulp Fiction. Uma vez que o espectador não poderá experenciar os dois filmes juntos, deverá primeiro compreender que Death Proof é um filme de entretenimento sem querer ser mais do que propõe ser. Está repleto de homenagens aos cinemas exploitation, não lhe faltando o toque ‘à lá Tarantino’.É, portanto, o primeiro filme do realizador que não contém uma panóplia de um elenco resgatado das velhas luzes da ribalta ou de actores famosos (com excepção de Kurt Russel e Rosario Dawson), e isso faz com o que filme resulte ainda melhor, dominando a atenção do espectador por inteiro. O nosso conhecido Kurt Russel é o vilão implacável (homenagem a outro filme Grindhouse: Fuga de N.Y. de Carpenter, que tinha o actor também como Snakes e com a cicatriz que o Stuntman Mike do Death Proof tem no rosto) e, por isso, restam poucas opções ao espectador sobre quem poderá ser o herói do filme, captando assim uma espécie de tensão entre todo o elenco. Death Proof é das melhores ressuscitações que pode ter sido feita no cinema actual, desprendendo-se ele mesmo de tabus e géneros comuns de Hollywwod, embarcando a sua narrativa com a menor das precupações em não ser competente. Projectos como este são a alma do cinema. Há em Death Proof um extremo carinho e prazer; resta ao fiel espectador deixar-se ser conduzido nesta viagem que Tarantino oferece e seguir o seu lema em filmes: ‘violence it’s funny’.


por J.M.A.

4 comentários:

Anónimo disse...

caso para dizer Yippee-ki-yah!! :D
Ass: B.Marrafas

Anónimo disse...

Achei a crónica mto boa, própria de um cinéfilo. Qdo estiveres a escrever para um jornal nacional ou para a Premiere, lembra-te que começaste aqui. Espero que o Espaço Z contribua para a divulgação do blog, e lhe dê outra atractividade e qualidade. Para a semana a mais!

Rogério Ramos

Anónimo disse...

Embora não partilhe a opinião sobre Death Proof devo dizer que gostei da crónica. Interessante e no meu caso aprendi mais alguma coisinha. Gostei de ler.

A única coisa que mudaria nesta crónica seria o uso, muito à semelhança dos críticos americanos, do "poder" do CERTO ou ERRADO. Certo ou Errado é algo que não existe no mundo do cinema/música/artes. IMHO, claro...

Fica a dica/opinião construtiva num artigo que trouxe sem dúvida valor acrescentado ao blog. Caro JMA, repita por favor que a malta lê e gosta :-)

Buz

Anónimo disse...

A unica coisa boa que o 'Queichinhos' tem é o PULP FICTION, mais nada.
Death Proof foi a pior coisa que vi este ano...