quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Haverá Sangue


Paul Thomas Anderson após o fracasso de bilheteira de Punch-Drunk Love, retirou-se durante cinco anos. Não podia ter feito melhor. Segundo o realizador, a ideia de fazer o There Will Be Blood deveu-se ao facto deste ter estado doente, acamado, e enquanto isso leu o livro ‘Oil’ do escritor, Upton Sinclair, que lhe deu a ideia imediata de fazer um filme sobre o tema: família, ambição e fé.
Haverá Sangue conta-nos a história de Daniel Plainview (Daniel Day-Lewis), um prospector de prata, tornando-se um pioneiro da exploração petroleira por sua conta. Após uma dica de Paul Sunday (Paul Dano) sobre uma pequena cidade em Little Boston, onde um oceano de petróleo está a revelar-se à superfície, Daniel resolve então partir para essa cidade degradada onde a comunidade é uma fervorosa adepta dos sermões do pregador Eli Sunday, irmão gémeo de Paul Sunday.

P.T. Anderson está imparável na realização. A sua prova viva disso está simplesmente no inicio do filme na forma como consegue colocar o espectador na palma das suas mãos. Antes de qualquer imagem, o espectador é sobressaltado pelas notas musicais de Jonny Greenwood, introduzindo uma sensação de desconforto. Seguem-se os inesquecíveis 20 minutos de cena sem um único diálogo, onde podemos observar o inicio da ambição de Plainview. P.T. faz-nos sentir que estamos prestes a observar a coisa mais importante do mundo com esses 20 minutos. Eis se não quando as primeiras falas de Plainview nos deixam completamente em sentido, fazendo-nos lembrar claramente um dos personagens de John Ford – o típico homem de cigarro e bigode, com uma autoridade notável na voz, impossível de ser disputado por alguém. A sua nota introdutória consegue provocar reacções de espanto no espectador, curiosidade e algum receio sobre a pessoa que estamos prestes a ouvir.

É sem dúvida a obra-prima até agora de P.T. Anderson, que realizou com grande mestria o brilhante actor Daniel Day-Lewis e a revelação Paul Dano (já num papel bom em Uma Família à Beira de Um Ataque de Nervos), que lamentavelmente não foi sequer nomeado para os Óscares. There Will Be Blood está dividido em três partes tal como uma peça de teatro. Na primeira parte como já referi é a introdução do colossal ‘Homem do Petróleo’, na segunda o desenvolvimento entre a disputa de dois homens com a fé e a ambição. A introdução do pregador, um igual manipulador tal como Plainview, ambos lutando quase invisivelmente, assim por dizer, borbulhando durante as duas horas de filme. Ambos evitam o confronto frontal, conduzindo os seus interesses numa espécie de jogo mútuo e severo. Ambos se vendem, ambos são corruptos, ambos são pessoas sem escrúpulos que só vêem na vida as suas ambições. No terceiro acto, por fim, tudo rebenta. Temos talvez um dos mais frios e crus finais dos últimos tempos, tudo suportado apenas pelo vocabulário dos dois actores num inteligente diálogo escrito pelo P.T. Anderson. Um semi-twisted final que nos obriga a repensar em tudo o que vimos atrás, a brava explicação que Plainview tem para com o pregador Elis, é algo de soberbo (“milkshake”...não digo mais nada, vejam o filme), um verdadeiro murro na própria realização de Anderson, não fosse a escolha da sala de bowling a própria metáfora significativa de que ambos jogam com a vida como um jogador joga bowling, derrubando pinos (pessoas) para ganharem.
É bom termos P.T. Anderson de volta, e em There Will Be Blood conseguiu finalmente fazer breves homenagens ao seu realizador de eleição, Stanley Kubrick, (note-se bem o inicio fazendo lembrar o 2001: Odisseia no Espaço, e onde se passa o acto final na sala de bowling homenageando o Hotel Overlook de Shining).
Foi uma agradável surpresa ver este filme, e não podia estar mais de acordo com o Óscar de Melhor Actor para o Daniel Day-Lewis, que é um dos meus actores favoritos. Daniel além de nos fazer acreditar arduamente que é um monstro bem real, consegue manter o historial do personagem ao longo do filme (note-se bem o pormenor de coxear o filme todo, devido ao seu acidente logo no inicio). A sua frieza, indiferença e picos de emoção estão todos lá. (na cena em que Plainview abandona o seu filho, e nos dias a seguir demonstra raiva contida, são espantosas!).
There Will Be Blood é sem dúvida um filme que aconselho a todos.
J.M.A


http://www.imdb.com/title/tt0469494/

3 comentários:

Anónimo disse...

Por acaso ainda não tive oportunidade de ir vêr esse filme mas gostei muito do Magnolia. E dos Oscarizados só vi o Juno (que achei um filme normal e não percebi o aparato todo ao filme) e o excelente Sweeney Todd que para mim merecia ter sido mais nomeado.

Abraços,

Luis Miguel

ArtVideo Clube disse...

Olá Luis Miguel,

Eu penso que o JUNO tem o seu merito (assim como comédias nomeadamente SUPERBAD e KNOCKED UP)porque fogem muito ao genero de clichés que se fazem em Hollywood das piadas fáceis e rápidas (comedia screwball). JUNO tem toda a sua carga dramatica mas camuflada suavemente pela comédia (sempre natural) sem nunca passar á comedia fácil e excessiva de 'gags'. Nem sempre comedia significa rir que nem um maluco, mas sim brincar com as tristezas da vida de modo inteligente em que o espectador se consiga identificar um pouco e talves vêr o lado cómico das situações, tál como faz por exemplo Ricky Gervais na série The Office e EXTRAS, em que temos como base histórias sobre pessoas frutradas com a vida a lutarem por um mundo melhor, mas sempre com o toque de comédia usando assuntos do dia a dia. Há um nome para o que JUNO é, e chama-se; Dramedy.

J.M.A

Anónimo disse...

Grande Zé, já fui vêr o Haverá Sangue, gostei muito mas achei muito longo, sabes k ñ gosto de filmes compridos :)
Abraço, continua.